sexta-feira, maio 19, 2006

Só vale o que está escrito


Hoje eu regressava da minha mesopotâmica e semanal missão de proporcionar prazer aos meus clientes e amigos trazendo os maravilhosos queijos de Paraíba do Sul. A meio caminho peguei um trânsito num trecho de subidas e descidas devido à lentidão de caminhões que iam à frente. Eram dois ou três caminhões e quatro automóveis, incluindo minha Veraneio e havia um caminhão atrás de mim. Nenhuma chance para ultrapassagens. Desse modo deixei uma distância mais que razoável entre mim e o carro à frente, o que bastou ao caminhão para me ultrapassar ocupando aquele espaço. Pressa sem muita lógica. Só dois ou três quilômetros adiante verifiquei que ele estava realmente apressado - ultrapassou dois caminhôes (os automóveis já estavam longe). Fui junto e também tomei sua frente. E agora revelo a vocês a frase do seu para-choque. Tirem suas conclusões. "Hoje tô sem pressa. Minha sogra está lá em casa". Nesse particular o jogo do bicho é que está certo. Só vale o que está escrito.

quinta-feira, maio 18, 2006

Drama e comédia


Ontem assisti a um drama, o segundo jogo entre Vasco e Fluminense. Foi um drama para o Vasco. Hoje não sei se será um drama ou uma comédia. Pode ser um drama para o Flamengo ou uma comédia para o Ipatinga.
Mas no final acaba tudo descambando para a comédia. É costume os comentaristas esportivos desautorizarem um técnico após uma entrevista dizendo que ele viu outro jogo, isso pelas costas, lógico. Mas quem garante que algum mortal viu o jogo certo? Paga-se a determinadas pessoas para descrever o que você está vendo na televisão. Já pensou se no cinema pagassem a um idiota para comentar o filme a que se assiste? Nem no tempo do cinema mudo existia isso. Quando muito havia um pianista proporcionando um som. Aliás, eu proponho na televisão cortar comentaristas e locutor; deixar só a sonoplastia e os repórteres de campo. Esses comentaristas e locutores são pessoas que enxergam falta no que você viu (e foi) bola pela lateral, ou, ao contrário, lateral no que foi falta. Às vezes, depois do terceiro replay, reconhecem seu erro. São diplomados em uma complexa e estranha ciência, já que têm sempre uma aracnídea explicação para os lances mais corriqueiros, aqueles mesmos em que eles sempre erravam quando eram vivos. Depois vem a parte da estatística: o time tal tem 70% de posse de bola (está perdendo de 1 X 0). Esse mesmo time, nos escanteios, está ganhando de 40 X 3 (já levaram o segundo gol). O indigitado time já botou três bolas na trave. Nunca é demais ouvir o Skank: "Ô bola na trave não altera o placar / Bola na área sem ninguém prá cabecear / Bola na rede prá fazer o gol / Quem não sonhou em ser um jogador de futebol."
Só mesmo repetindo o dito da moda: ninguém merece!

quarta-feira, maio 17, 2006

Até onde vai a ficção

Esta postagem está arquivada na pasta Represália. Mas à medida em que ia escrevendo achei que Seu Lalo seria a melhor opção. No Represália só quando não se tem opção ou ela é inadequada.

Ir ao cinema já foi para mim quase uma religião. Todo domingo à tarde eu estava lá. É claro que, pelas manhãs, eu não perdia a missa. Coisas inesquecíveis: o emblema da Condor Filmes era o próprio, que ficava um tempo parado no alto de uma montanha, e depois voava. Os gaiatos do cinema gritavam "xô, urubu", e, em seguida, o condor do filme começava a alçar vôo e o filme começava. Havia também o leão da Metro: muito rugido, muito barulho, muita ferocidade mas depois era só fita. A brincadeira começava antes do filme e se estendia até o "the end". E todos sabiam, nem precisavam ler na apresentação, que "todos os personagens e fatos são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas da vida real é mera coincidência".
Agora, grupos cristãos em locais tão distantes como Coréia do Sul, Tailândia, Índia e Grécia protestaram ontem contra a estréia do filme "O Código Da Vinci". A história do filme, na qual Jesus Cristo se casa com Maria Madalena e tem filhos com ela, ofendeu muitos cristãos.
Na Coréia do Sul um tribunal indeferiu ontem uma ação apresentada por um grupo cristão para que o filme fosse proibido. Segundo a corte, a queixa carecia de mérito. "É obvio que o livro e o filme são ficção", afirmou o juiz Song Jin-hyun em sua decisão.
Nas Filipinas, os censores governamentais aprovaram uma classificação especial para "O Código da Vinci". A censura, no entanto, negou-se a classificá-lo como "proibido para menores", pois considerou que a "produção não constitui um ataque claro nem direto à Igreja Católica ou à religião" e não calunia ou difama nenhuma pessoa.

Hoje entrei numa página do King Kong. Muitas opções para ver. Acho que é preciso ter o Quick Time. Minha placa de vídeo é bem fraquinha. Minha filha tem uma placa mil vezes melhor. E ainda caçoa. Diz que eu não assisto a filmes, vejo quadro a quadro. Isso não se faz com um pai. Mas nem tudo está perdido. Escolhi tease, spanish, medium. Espere até carregar todo o cursor antes de apertar play. Maravilha. Cenas de uma beleza indescritível. Apesar disso fiquei assustado, muito assustado. Esse filme devia ser proibido.
Se você não tem o Quick Time faça o download aqui. Free, de preferência.

segunda-feira, maio 15, 2006

As chuvas e a lama

Cada dia uma avalanche, um desmoronamento


Muitas vezes meu caminho foi interrompido pelas avalanches. Nas fotos dos jornais pude comparar uma pedra que caiu numa dessas avalanches com um ônibus que passava ao lado. O ônibus era bem menor. Eu ía passar no local um dia ou dois após o acontecido mas interditaram a estrada. Foi na altura de Pedro do Rio, na Washington Luiz. Na semana seguinte dinamitaram o mostrengo mas o movimento estava em meia pista e levou pràticamente um mês para tudo voltar ao normal. Outras vezes me deparei com montanhas de barro que a chuva levou para a estrada e ainda noutros locais encontrei uma pequena avalanche de cascalhos. Muito mais eu poderia falar. A serra, quando faz mau tempo, sempre nos reserva surpresas. Porém a planície também contém surpresas: avalanches de lama. Cada dia uma nova. Espero que nossos sentidos não fiquem entorpecidos. Eis a avalanche do dia:
"O banqueiro Daniel Dantas falando à repórter Janaina Leite da Folha negou possuir documentos sobre contas bancárias de petistas no exterior. Mas confirmou que Delúbio Soares, ex-gerente das arcas petistas, pediu US$ 50 milhões ao seu Opportunity. Não levou. E o grupo, diz Dantas, foi “discriminado” pelo governo. Perguntado sobre as informações que teria, Dantas relatou que lhe disseram que havia o número das contas no exterior de pessoas ligadas ao governo, inclusive do presidente Lula. Concluiu: - Mas não vou falar quem me disse, pois não dei a menor credibilidade." Leia mais no blog do Josias.

"Lula, por sua vez, diz que os repórteres da Veja merecem o Nobel da Mentira. Pois é... Mas não teve a coragem de dizer que Daniel Dantas está mentindo. Atenção: quem põe o governo em palpos de aranha não é a revista, mas o banqueiro. A exemplo do que Antonio Palocci fazia com Rogério Buratti, o presidente preferiu não comprar a briga. Deve saber por quê. Dantas dá a entender que está bastante calçado em documentos e, quem sabe?, numa prova que seria a Kryptonita do Super-Apedeuta.
Parece que o banqueiro baiano pode ser para Lula uma ameaça pior do que a Crítica da Razão Pura de Emmanuel Kant. Leia mais no Primeira Leitura (Impeachment Já, Diogo Mainardi, PCC e chapéus).

terça-feira, maio 09, 2006

Escatológica


Muito pouco vou a bancos. Já li sobre uma senha que se pega à entrada para valer a lei do tempo de espera nas filas - 15
minutos normalmente e 30 minutos em dias de pagamento. Quando você pega a senha, dizem, não são todos que o fazem, a fila começa a andar até que o prevenido possuidor do salvo conduto seja atendido.
E quando você entra nas quilométricas filas dos caixa-automáticos? Ouvi dizer que caixa-automático é terra de ninguém. Não é considerada dentro do banco, se bem que esteja.
O bem estar do cliente não é prioridade dos bancos. Algumas agências em que estive ofereciam bancos para descanso das pessoas da fila. Era uma fila sentada. Os clientes sentavam-se mais à frente à medida que a fila avançava. Uma comédia. Já noutra agência onde fui sacar um dinheiro não reparei nesta comodidade.
E se sua bexiga incomodar? E se outra necessidade mais premente acontecer? Reze para que não seja com você. Os bancos não têm instalações sanitárias para o conforto das pessoas que eles exploram.
Passo a relatar o seguinte: uma pessoa, que é meu primo, teve por dever de ofício que ir ao banco no último dia do mês para pagar obrigações legais da firma onde trabalhava. Banco cheio, as pessoas na fila seguindo aquele labirinto que eles pintam no chão. Muito calor, muita demora. Uma senhora, vamos no popular, uma velha, com as feições aparentando sofrimento e muita preocupação, não podendo abandonar seu lugar na fila e, como se soube depois, acometida de uma súbita dor de barriga, resolveu segurar a barra até chegar sua vez no guichê. Mas não deu. Em pleno salão resolveu-se. O ambiente tornou-se fétido e constrangedor, além de sujo. Esse meu primo é uma pessoa muito sensível, tanto na alma como no físico. Aquela situação deu-lhe náuseas. "A náusea é uma sensação desagradável no abdômen que, freqüentemente, termina em vômito. O vômito é a eliminação forçada do conteúdo gástrico através da boca. A náusea e o vômito são causados pela ativação do centro do vômito localizado no cérebro." Veio a primeira contração. Todos se afastaram. Na segunda o espaço já estava aberto. Na terceira e definitiva já estavam todos na parede.
Não me foi contado, nem perguntei, como transcorreram os trabalhos dentro do banco depois do acontecido, mas que o pessoal da faxina naquele dia teve trabalho dobrado, ninguém tenha dúvida.