terça-feira, setembro 12, 2006

Última flor do Lácio

Estou há mais de um mês sem produzir aqui no Seu Lalo. Aproveito o fato de ter comentado num blog sobre o uso de uma expressão errada - uso esse proposital - ser tomado a sério por leitores que acreditam em letra de forma. É costume dizer-se: deu no jornal! Não quer dizer que seja verdade, embora se diga que o que a televisão não dá, não aconteceu. No jornal e na televisão também se erra; os brutos também amam.
Num texto intitulado "Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa" escrito por Murilo Badaró, membro da Academia Mineira de Letras, li: "Lamentavelmente, o desprezo pelo bom uso da língua é mais notável entre aqueles que, por dever de ofício e posição, deveriam ser os
primeiros a esmerar-se no seu trato. O mau exemplo prolifera e produz seus efeitos maléficos em meio do povo, este mais susceptível de acolher os barbarismos e os solecismos que infestam a fala e a escrita dos nossos dias".

Algumas pessoas se reuniram para consertar a língua portuguesa. Não se corre mais risco de vida, sério, agora é risco de morte. Trocaram seis por meia dúzia. Não se entrega mais à domicílio. Todos entregam em domicílio. Para não falar no engessamento da concordância verbal: todos os verbos pedem de que. Ouvi de que, soube de que, tomei conhecimento de que, é a cultura do de que.
E cuidado com os advérbios! Não é "menas" verdade que eles não são usados corretamente. O exemplo clássico é: "ela estava meia cansada".

Termino deixando um belo soneto de alguém que era do ramo - Olavo Bilac

Última flor do Lácio

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!