domingo, julho 30, 2006

Já vi a Babel de perto

Origens da construção

Dizem uns que o objetivo da construção da Torre de Babel era prevenir um novo dilúvio. A estrutura dessa torre colocaria todos a salvo das águas. Nesse tempo todos falavam a mesma língua. Já outros falavam que a torre que planejavam construir seria um lugar de adoração ao Sol, à Lua e às estrelas. Deus viu a cidade e a torre que estavam sendo construídas e disse: "O povo é um só, e todos falam a mesma língua; assim, podem fazer tudo o que quiserem. Vamos descer e confundir suas palavras; assim um não vai entender o que o outro está dizendo". E foi o que o Senhor fez, e a construção parou. Aquela cidade recebeu o nome de "Babel", que significa "confusão", pois foi ali que Deus criou diferentes idiomas, obrigando o povo a se espalhar pela terra.

Há algum tempo eu vi a Babel de perto. Uma Babel organizada mas, no sentido da palavra, uma babel. Foi no Campeonato Mundial Militar de Tiro realizado no Rio de Janeiro, provàvelmente em 1961. Não me lembro onde se desenvolveu o campeonato, sei apenas que havia uma centralização na Escola de Aeronáutica. Os militares ficavam alojados lá e alguns tinham um entrosamento muito bom com os cadetes. Os mais próximos eram os coreanos, muito simpáticos e alegres. Jogavam conosco, no cassino dos cadetes, uma modalidade de sinuca chamada carambola onde jogam quatro bolas. A finalidade é encaçapar três bolas "carambolando" na quarta bola, de outra cor, que não pode cair na caçapa porque então o jogador perde a partida. Jogávamos prevendo em qual caçapa cairia a bola ou livremente - qualquer caçapa valeria. Com os coreanos jogávamos nesta modalidade e quando a bola caía sem que tivéssemos a intenção, dizíamos para os coreanos: "cagada!". Eles logo aprenderam o sentido do termo e quando encaçapavam uma bola por acaso também exclamavam eufóricos, com largos gestos: "cagada!" Há muita piada de brasileiro que ensina palavrões a estrangeiros como sendo nome de alguma ferramenta, de algum objeto, causando-lhes embaraços quando eles mostram seus "novos conhecimentos de português" a pessoas mais formais.
Essa babel era composta de coreanos, ingleses, canadenses, franceses, americanos, argentinos, italianos, não me lembro dos outros. Assisti a um capitão aviador se dirigir em inglês a um argentino, mas logo se deu conta do absurdo. Muitos cadetes botavam seu inglês, espanhol ou francês em dia. Até quem nunca tinha tido um diálogo com um estrangeiro se aventurou a trocar idéias e haviam cadetes muito entusiamados: - "Estou falando, estou falando"! Lembro de conversas pela manhã, antes do café. Depois ia cada um para suas atividades. Felizmente para nós a palavra babel tinha evoluído de confusão, mistura de línguas para movimentação barulhenta de pessoas.
Algum sobrevivente daquele época que se lembre de mais algum detalhe e quiser acrescentá-lo, por favor, use os comentários