quarta-feira, julho 26, 2006

Histórias dos amigos dos meus amigos


Os melhores pratos franceses
Lombo de Bacalhau à la sarda
Alguém poderia pensar que agora pirei de vez - teria entrado no ramo da gastronomia? Eu gostaria muito de ser um conhecedor dessa arte. Admiro muito também quem tem o dom da culinária. Como desejaria um dia receber meus amigos no sítio que não tenho e oferecer-lhes os melhores acepipes confeccionados no capricho por mim. Seria uma tarde inesquecível, todos felizes, bebendo um bom vinho, safra 1992. E depois uma invulgar sobremesa ressaltando pelo menos os sentidos do olfato, paladar e visão. Mas agora vamos acordar e iniciar a narrativa.
Aqui não se fala de um amigo de outro amigo, mas sim de uma figura singular encontrada pelo meu amigo no interior de uma livraria no centro do Rio. Estava asseado, com uma roupa escura muito humilde mas limpa. Trazia os cabelos compridos e em desalinho, a barba muito crescida e encaracolada. Calçava velhas botinas. Resumindo: era um mendigo e lia um livro com profunda concentração. Era um volume grosso, encadernado e profusamente ilustrado. Lia com satisfação, esboçando um sorriso contido. A curiosidade do meu amigo foi a mil. Já estava de saída mas tinha que saber que livro era aquele que tanto inebriava a bizarra criatura. Disfarçadamente, passou por entre mesas e estantes, deu a volta ao mendigo e postou-se à sua frente. Sempre com cuidado, fingindo examinar livros, pode afinal matar sua curiosidade. Num relance, abobalhado, leu o título: Os melhores pratos da culinária francesa.
Hoje fui a uma livraria (revistaria) comprar jornais e a revista Adega. Na mesma estante haviam revistas de gastronomia, uma com fotos lindíssimas. Lembrei-me da preferência literária do mendigo e, ao pagar, relatei a história à atendente e comentei: - Que coisa estranha!
Ela então me deu sua contribuição para o encerramento deste artigo. Falou: - Ele deve ter sido alguém de muita condição financeira. Seu consolo hoje é recordar um tempo feliz e distante.
Faz sentido, mas não vou analisar este ângulo porque me levaria a uma digressão a que julgo não estar capacitado. Talvez seja campo para filósofos ou sociólogos, não sei. Disso não entendo, nem de gastronomia, mas vamos dar uma folheada na revista Adega. Em matéria de vinhos não sou nenhum sommelier nem nunca bebi Romanée-Conti mas, quando o bolso me permite, dou minhas cacetadas.