quarta-feira, novembro 30, 2005

Por que seulalo?

Por razões sentimentais. Na hora de batizar o blog me bateu a imagem da infância. Não que eu seja dotado de privilegiada memória, como a do cara que se lembrava de ter ido a um picnic com o pai e de ter voltado com a mãe.
Meu tio mais novo, já falecido, sempre me tratou como "Seu" Lalo. Acho que desde os 2 ou 3 anos de idade, porque ele me contava que havia uma canção que eu cantava com a seguinte letra: Seu lalo, seu lalo, seu lalo, lalo, seu lalo, seu lalo, seu lalo, lalo. Só isso. Não havia segunda parte. Evidentemente ele é que cantava com essa letra. Eu só fazia repetir, e achando que a minha interpretação é que era a correta. - Não é "atim" (assim), é "atim" (assim), eu dizia. De qualquer maneira, lembrei desse detalhe ao batizar este blog. E aqui está o SEULALO exposto para vocês, tentando transmitir alguma coisa, de bom ou nem tanto. Mas aí já não é comigo.

terça-feira, novembro 29, 2005

Conectando à realidade - Luiz Fernando Veríssimo

Eu nunca havia entendido porque as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha entendido isso de "Marte e Vênus". E nunca tinha entendido porque os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração. Uma noite, semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. Bom, começamos a ficar a vontade, fazer carinho, provocações, o maior "T" e, nesse momento, ela parou e me disse: acho que agora não quero, só quero que você me abrace... Ela falou: -Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher. Comecei a pensar no que podia ter falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte, fomos ao shopping. Entramos em uma grande loja de departamentos... Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos.. Como não podia decidir por um ou outro, falei para comprar os três. Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem, a R$200,00 cada par. Respondi que tudo bem. Depois fomos a seção de joalheria, onde escolheu brincos de diamantes. Estava tão emocionada!! Deveria estar pensando que fiquei louco. Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga. Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso. Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz! Quando ela falou: -Vamos passar no caixa para pagar, amor? Dai eu disse: -Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem...Só quero que você me abrace. Ela ficou pálida. No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei: -Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem. Me vinguei, mas acredito que o sexo acabou para mim até o Natal de 2010.

Luiz Fernando Veríssimo

CUIDADO COM DESCONHECIDOS

Numa fase da vida você quer ver todas as pessoas, quer ir a festas, não dá pra ficar em casa. Ainda mais num sábado.
Isto não é obra de ficção.
Quem me contou foi o causador involuntário do constrangimento por que passou um de seus conhecidos, pessoa extrovertida, que não queria ficar em casa.

Sem programa naquele sábado o Epaminondas (vamos chamá-lo assim) encontrou-se com meu amigo e expôs seu problema: não tinha onde ir. Nem um aniversário, nem um casamentozinho. Antigamente havia programas de calouros nos parques. Já servia. Mas veio a salvação.

- Olha, Epaminondas. Eu tenho um casamento pra ir lá em Cavalcanti. Mas não vou poder. Tá bom pra você?
- Tá ótimo! Manda o enderêço.
E foi, sem conhecer ninguém. Nem o noivo nem a noiva. Mas isso não era problema. Logo tratou de se enturmar. Puxou conversa lá com um cidadão e já parecia um pinto no lixo. Já bem aclimatado achou que era hora de ampliar a alegria e começou a contar uma graça para o conviva recém conhecido.
- Escuta, você sabe o que é bom para picadura de mosquito?
- Não, não sei. É o quê?
- Ora, é uma xerequinha bem pequenininha.

Fechou o tempo!
Tem evangélico que ouve uma piada muito mais cabeluda sem se alterar. Até dá um leve sorriso. Mas o Epaminondas tinha que contar para o evangélico oposto.
- O senhor não tem vergonha de me contar essas obscenidades? Vou chamar o dono da casa!
E chamou.
- Este senhor, aqui na sua casa, vem cheio de obscenidades, cheio de palavrões!
E aí a clássica pergunta:
- Quem convidou o senhor? Por favor, o senhor se retire.
Fez-se uma roda a olhar aquele desavergonhado. O Epaminondas manteve a calma. Explicou como tinha sido "convidado" e recontou a piada ao dono da casa.
- O senhor acha que foi alguma coisa demais, alguma obscenidade? Ainda mais que eu contei em particular para esse cidadão.
- Não, não tem nada demais. O senhor não se preocupe. Esteja à vontade.
- Não, agora eu já não tenho mais ambiente. Esse crente acabou com minha alegria. Vou embora.
Eu sempre lembro desse fato quando estou em situação parecida. Não abro a guarda para desconhecidos. Quando mando meus e-mails procuro não liberar coisas escrachadas para quem não me é muito familiar. Nem para pessoas mais jovens que provàvelmente me tem num conceito de mais seriedade. Mas sempre se corre o risco daquele seu amigo debochado de ontem ter virado padre. A última palavra fica com o bom senso, que, segundo Descartes, é a coisa mais bem distribuída na face da Terra por que todos se acham muito bem providos dele.