terça-feira, novembro 29, 2005

CUIDADO COM DESCONHECIDOS

Numa fase da vida você quer ver todas as pessoas, quer ir a festas, não dá pra ficar em casa. Ainda mais num sábado.
Isto não é obra de ficção.
Quem me contou foi o causador involuntário do constrangimento por que passou um de seus conhecidos, pessoa extrovertida, que não queria ficar em casa.

Sem programa naquele sábado o Epaminondas (vamos chamá-lo assim) encontrou-se com meu amigo e expôs seu problema: não tinha onde ir. Nem um aniversário, nem um casamentozinho. Antigamente havia programas de calouros nos parques. Já servia. Mas veio a salvação.

- Olha, Epaminondas. Eu tenho um casamento pra ir lá em Cavalcanti. Mas não vou poder. Tá bom pra você?
- Tá ótimo! Manda o enderêço.
E foi, sem conhecer ninguém. Nem o noivo nem a noiva. Mas isso não era problema. Logo tratou de se enturmar. Puxou conversa lá com um cidadão e já parecia um pinto no lixo. Já bem aclimatado achou que era hora de ampliar a alegria e começou a contar uma graça para o conviva recém conhecido.
- Escuta, você sabe o que é bom para picadura de mosquito?
- Não, não sei. É o quê?
- Ora, é uma xerequinha bem pequenininha.

Fechou o tempo!
Tem evangélico que ouve uma piada muito mais cabeluda sem se alterar. Até dá um leve sorriso. Mas o Epaminondas tinha que contar para o evangélico oposto.
- O senhor não tem vergonha de me contar essas obscenidades? Vou chamar o dono da casa!
E chamou.
- Este senhor, aqui na sua casa, vem cheio de obscenidades, cheio de palavrões!
E aí a clássica pergunta:
- Quem convidou o senhor? Por favor, o senhor se retire.
Fez-se uma roda a olhar aquele desavergonhado. O Epaminondas manteve a calma. Explicou como tinha sido "convidado" e recontou a piada ao dono da casa.
- O senhor acha que foi alguma coisa demais, alguma obscenidade? Ainda mais que eu contei em particular para esse cidadão.
- Não, não tem nada demais. O senhor não se preocupe. Esteja à vontade.
- Não, agora eu já não tenho mais ambiente. Esse crente acabou com minha alegria. Vou embora.
Eu sempre lembro desse fato quando estou em situação parecida. Não abro a guarda para desconhecidos. Quando mando meus e-mails procuro não liberar coisas escrachadas para quem não me é muito familiar. Nem para pessoas mais jovens que provàvelmente me tem num conceito de mais seriedade. Mas sempre se corre o risco daquele seu amigo debochado de ontem ter virado padre. A última palavra fica com o bom senso, que, segundo Descartes, é a coisa mais bem distribuída na face da Terra por que todos se acham muito bem providos dele.