domingo, abril 09, 2006

Os três Fokkers

"Barbeiros" nos céus




O avião fokker S-11-4 (T-21) é um monoplano de asa baixa para treinamento primário, equipado com motor Lycoming 0.435-A de seis cilindros refrigerado a ar, com potencia máxima de 190 HP a 2.550 RPM ao nível do mar. Possui dois tanques localizados em cada asa, ao lado da fuselagem, com capacidade de 71 litros cada um, excluindo-se o espaço para expansão. Teto de serviço: 4000 mts; velocidade de cruzeiro: 80 nós; autonomia prática: 3 horas.

Há muito tempo, com o aumento do tráfego aéreo mesmo nos pequenos aeroclubes, viu-se a necessidade de se criar uma padronização nos vôos para se evitar problemas, tanto corriqueiros como graves, no circuito de aproximação. Passou a ser definido um caminho específico para a aproximação, de maneira que toda aeronave deveria respeitar este caminho. É mais ou menos como se houvesse uma rua ao redor da pista e o avião só pudesse pousar na pista se seguisse esta rua. Este é o circuito de tráfego padrão.

Se nada mudou acho que ainda me lembro: tomada de pista, perna com o vento, perna base, reta final. Para quem não é do ramo faz-se necessária uma explanação - a tomada de pista é feita perpendicularmente à mesma, vira-se para a direita, estamos na perna com o vento paralelamente à pista. Faz-se uma curva à esquerda sôbre o início (cabeceira) da pista e à esquerda novamente. Estamos de frente pro crime. É a reta final. Vamos aterrisar. Vamos para os abraços ou pra tomar esporro do instrutor.
No entanto há outros aviões no circuito, alguns fazendo pouso e arremetida. Se o instrutor acha que você materializou o pouso ele manda apenas tocar e arremeter (acelerar e decolar de novo). Faz-se o circuito novamente. Dá-se a volta no quarteirão. Então há um problema: tráfego de aviões fazendo o circuito e aviões entrando no circuito. Nunca ouvi falar, mas desde que as aeronaves estão com a mesma altura, pode haver colisão.

Assim, estava eu a fazer uma tomada de pista. Atrás, muito próximo, perigosamente próximo, eu achei, vinha outro avião. Esperei que ele virasse à direita, pegando a perna com o vento, para eu poder fazer o mesmo. Mas nada dele fazer isso. Quando olho à esquerda, outro avião estava fazendo o circuito. Então preste atenção, motorista. Você de carro, numa encruzilhada, você simplesmente para e aguarda o outro carro passar. Quem estiver atrás de você também para e aguarda. Mas no ar só quem para é helicóptero, beija-flor e o Dadá Maravilha, jogador de futebol ao cabecear uma bola segundo ele. Demorou mas tive que tomar minha decisão. O que vi então simplesmente não pode ser descrito. Ninguém pode descrever a amplidão, o espaço sem fronteiras, que nenhuma Hidra de Lerna, da mitologia grega, com suas sete cabeças e não sei quantos olhos, poderia enxergar. Abaixo de mim um avião ainda passando reto, acima o do circuito com suas rodas quase riscando minha cabeça. Os três literalmente embrulhados. É uma fração de segundos que parecem alguns minutos. Só mesmo um desenho poderia descrever a cena.
Memorizei os números dos aviões e lá embaixo cheguei junto. Não lembro quem eram os anjinhos. Perguntei a um se não tinha visto meu avião e o que poderia acontecer. Ele não tinha visto avião algum. Perguntei ao outro pilôto. Ele tampouco tinha visto nada. Não é só nas estradas que existem "barbeiros". Também há "barbeiros" no céu.