A raposa que deu certo
Metáforas, fábulas, histórias
Octávio CostaLeonel Brizola tinha o costume de ilustrar seus discursos com fábulas e metáforas. E quando a questão envolvia a economia nacional e o comando das finanças e do Banco Central por banqueiros ou executivos de bancos, Brizola citava sua metáfora predileta: "É o mesmo que botar a raposa para tomar conta do galinheiro". Há variações indignadas para o mesmo tema: vampiro no banco de sangue, criminoso na Secretaria de Segurança, etc... Porém, quem não tomou conhecimento de que hackers notórios são muito procurados para assumir a segurança de grandes firmas de processamento de dados? Muitas empresas contratam homens maus, para não empregar outro termo, para dar tranquilidade aos seus negócios. Mas há um antecedente histórico que é o maior exemplo.
Nos anos 20, nos Estados Unidos, um cidadão chamado Joseph Kennedy tornou-se administrador de carteiras de ações e enriqueceu graças a operações especulativas nas Bolsas de Valores. Alguns o acusavam de manipular o mercado, mas Joseph foi em frente, fez fortuna e criou um fundo de um milhão de dólares para cada um de seus filhos. Quando foi eleito em 1932, Franklin Roosevelt assumiu o leme de um país que ainda vivia sob os efeitos da depressão que se seguiu ao crack da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Roosevelt decidiu, então, reorganizar o mercado de capitais e pediu a seus assessores uma nova regulamentação para as Bolsas de Valores. O trabalho ficou pronto em 1933, batizado de Securities Act, e propôs a criação de um órgão para fiscalizar o mercado: a Securities and Exchange Comission. O presidente aprovou a nova legislação e passou a buscar o nome ideal para presidir a nova instituição.
Não demorou muito. Quem melhor para o cargo do que Joseph Kennedy, o maior especulador do país? Roosevelt fez o convite, que foi imediatamente aceito por Kennedy. À frente da SEC em 1934 e 1935, o especulador puniu severamente todas as formas de manipulação nas Bolsas (ele as conhecia como ninguém, na verdade criara algumas delas). Em novas bases e com a rédea curta nas mãos de Kennedy, os investidores recuperaram a confiança no mercado, que voltou a crescer. Para muita gente, Joseph Kennedy é apenas o pai de John Kennedy, presidente americano que morreu assassinado numa rua de Dallas. Mas, para quem conhece a economia americana, o velho Kennedy foi o homem que implantou as sólidas bases do mercado financeiro dos EUA.
Em tempo de metáforas, nada como um bom exemplo histórico. Como mostrou Roosevelt, a raposa é capaz de pôr ordem no galinheiro.
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