terça-feira, março 14, 2006

Pigmalião

Recebi hoje de um amigo uma história fantasiosa mas cujo mérito é a mensagem que encerra. Achei qualquer coisa parecida com a lenda de Pigmalião, que, aliás, nem sabia que se tratava de lenda. Li o livro de Bernard Shaw. Não vi "os" filmes. Mas pesquisei o texto abaixo. É, mal comparando, uma fábula para a qual você, amigo, com algum esforço, poderá achar a moral, a moral da história.

A Mulher de Pigmalião

O escultor Pigmalião está desesperado. Solitário em sua oficina vazia, não tem mais vontade de começar nenhuma obra. A vida lhe parece monótona e desolada porque está sempre sozinho. É claro que poderia procurar uma mulher, mas não se interessa por nenhuma das que encontra. Seu coração está totalmente tomado por Afrodite, deusa da beleza e do amor. Só pensa nela, só sonha com ela. E vive tristíssimo por causa disso. Mas, de repente, Pigmalião lembra-se de que é um grande artista, muito famoso. E tem uma idéia que pode dar fim a seu desespero. Seu rosto se descontrai e, pela primeira vez em muito tempo, esboça um sorriso. Começa a trabalhar. Primeiro, sai pela cidade à procura do marfim mais belo, mais branco, mais brilhante que puder encontrar. Manda que lhe entreguem imediatamente esse precioso material e volta bem depressa à oficina. Prepara as ferramentas - buris e martelos - que há tanto tempo não usa para nada. Finalmente, chega o marfim. Dessa matéria inerte, seu cinzel criará uma maravilha, uma estátua de Afrodite como jamais se viu. Devagar, o artista aproxima-se do marfim e o acaricia. Então, decidido, escolhe as ferramentas adequadas e dá início à tarefa. Dia e noite, sem parar nem para dormir ou comer, Pigmalião modela a matéria dura. De vez em quando, dá uns passos para trás e admira sua obra. Uma noite, o escultor conclui o trabalho. Diante dele, no meio dos brilhantes pedaços de marfim espalhados pelo chão, ergue-se a imagem de uma mulher de beleza tão deslumbrante que nunca na Terra se viu ninguém igual. O artista fica maravilhado com sua própria criação. Mas é preciso aceitar a realidade: Galatéia - esse o nome que ele acaba de lhe dar - é matéria inanimada, incapaz de ter sentimento. Pigmalião suspira. Com todo o fervor, suplica a Afrodite que tenha piedade dele. Depois, exausto, deita-se. Enquanto ele dorme profundamente, Afrodite penetra na estátua. Com seu poder, faz de Galatéia muito mais que uma simples imagem de aparência humana. Transforma-a numa mulher viva, dotada de pensamento e emoção. O marfim frio e duro passa a ser carne macia e quente, e a vida brilha nos olhos de Galatéia. Pigmalião dorme um sono tão profundo que nem sonha. Mas começa a sentir no rosto uma carícia indefinível. Sem abrir os olhos, tenta espantar com a mão esse toque que o perturba. Sentindo estar pegando alguma coisa, dá um grito e acorda: Galatéia está diante dele, viva, com a mão apoiada na testa de Pigmalião e o punho preso na mão dele! Não é sonho. Afrodite atendeu a sua súplica. Agora o escultor tem uma mulher. Uma vida cheia de felicidade começa para Galatéia e Pigmalião.
QUESNEL, Alain. A grécia. Mitos e lendas. (Trad.: Ana Maria Machado). 6ª Edição. São Paulo: Editora Ática, 1996.