quarta-feira, março 01, 2006

Território livre do MST

Questão Agrária

Fazenda Coqueiros é invadida pela quarta vez
Área de 7 mil hectares foi tomada por quase 2 mil sem-terra
MARIELISE FERREIRA
Jornal ZERO HORA, de Porto Alegre

Em menos de dois anos, a Fazenda Coqueiros, área de 7 mil hectares em Coqueiros do Sul, sofreu a quarta invasão, ontem. Quase 2 mil manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a área no município do norte do Estado. Antes da invasão, uma viatura da Brigada Militar foi retida, teve os pneus furados e a lataria riscada. Além das tradicionais barracas de lona preta, o grupo ergueu construções de madeira e montou uma estrutura que inclui caminhão-pipa e um carregamento de alimentos. O grupo pede a desapropriação da área. A maioria das famílias pertencia ao acampamento montado em outubro às margens da RS-406, em Nonoai, e retirado em 23 de fevereiro. A mobilização dos sem-terra começou logo após a meia-noite de segunda-feira, em acampamentos e assentamentos de todo o Estado. A BM monitorou os grupos depois de um ônibus ter sido visto deixando um assentamento de Não-Me-Toque. Por volta das 4h de ontem, dois PMs que faziam ronda próximo ao acampamento mantido desde abril de 2004 em Coqueiros do Sul também perceberam a chegada dos ônibus, mas foram impedidos de comunicar a invasão iminente. Cerca de 50 manifestantes cercaram o carro da BM e rasgaram os pneus com foices e facões. Conforme o sargento José França, 36 anos, que dirigia o carro, o grupo ainda explicou a ação: - Eles arrancaram o microfone do rádio, pegaram as baterias dos celulares e avisaram que era só para não conseguirmos segui-los de imediato. Segundo os PMs, o grupo riscou com um facão a lataria do carro, escrevendo as iniciais MST. Os policiais ficaram retidos até as 7h30min, quando mais de 30 ônibus e caminhões deixaram o acampamento em direção à fazenda. Eles entraram por um acesso lateral, a 500 metros da sede, ocupando a área onde fica uma serraria. Os funcionários foram despejados pelos manifestantes. O major Aderli dal Bosco, do Batalhão de Polícia Militar de Carazinho, disse que a BM vai monitorar o local para garantir que não ocorram conflitos. Chamou a atenção dos policiais o fato de os manifestantes montarem barracos de madeira e não de lona como fazem normalmente. Toneladas de alimentos e até um caminhão-pipa foram levados à propriedade. Ana Soares, 24 anos, que ajudava a coordenar a montagem das estruturas, disse que o grupo não pretende sair da área.
- Nossa estrutura é para ficar até que o governo indenize o proprietário e assente as famílias - disse ela.
O que dá a essa moça tanta segurança para fazer essa afirmação? A certeza da impunidade? O desinteresse da autoridade?