sábado, março 04, 2006

A gente trabalha de verdade

Troquei os slogans.
O que trabalha de verdade é um outro. Aqui é o do Brasil país de todos.

De folga na base da Marinha na Restinga da Marambaia, no Rio, Lula (na foto sentado sem camisa na proa de lancha da Marinha) saiu para pescar na manhã desta segunda. Parecia animado. No rádio, o presidente disse que costuma ficar incomodado “quando tem um feriado prolongado de três ou quatro dias." O que o aborrece é o fato de "ter tanto tempo para descansar."




Primeira Leitura, 3 de março de 2006
A herança, o suspiro, a teoria e a bobagem
Por André Soliani

Eu sempre achei, até esta quinta-feira, que o presidente Lula havia fracassado em produzir crescimento econômico devido à ausência de um projeto de desenvolvimento para o país. Fui pego de surpresa pela entrevista dele à revista britânica The Economist: a falta de crescimento econômico não é um fracasso da gestão petista, simplesmente porque crescimento econômico não é uma prioridade do programa de governo de Lula. “No Brasil, nós não estamos com pressa de fazer a economia deslanchar imediatamente”, esclareceu Lula, ao repórter da publicação.
Se a declaração de Lula foi sincera, por três anos ele me enganou. Acreditei que os resultados pífios eram por causa da incompetência. E agora descobri que não precisamos de crescimento. Que a competência lulista almejava os resultados que o país obteve.
Mas desconfio que a frase é mais uma desculpa retórica do presidente para esconder os erros do governo. Quando estourou o escândalo do mensalão, Lula passou a dizer para o eleitor que não havia opção, pois o sistema político brasileiro seguia o mesmo comportamento antiético. Agora, que ficou patente o fracasso petista na gestão econômica, Lula quer nos convencer de que não precisamos justamente do instrumento de desenvolvimento econômico e social mais eficiente, o crescimento. A estratégia petista é desqualificar as virtudes que não produz. Na política, a ética; na economia, o crescimento. A crônica das desculpas O candidato Lula de 2002 nos dizia que “o Brasil precisava voltar a crescer”. E ele vendia a idéia de que tinha tudo preparado para colocar o país nos trilhos do desenvolvimento sustentado. No documento Concepção e Diretrizes do Programa de Governo do PT para o Brasil, o futuro governo pregava uma tal de “A Ruptura Necessária” (o texto está disponível no link http://www.pt.org.br/site/assets/diretrizes.pdf). “Trata-se, pois, de propor para o Brasil um novo modelo de desenvolvimento economicamente viável, ecologicamente sustentável e socialmente justo”, resumia o partido.
Pois bem, o petista foi eleito e veio 2003. No primeiro ano de mandato, o país “que precisava voltar a crescer” teve uma expansão econômica de mísero 0,54%. Uma recessão, na verdade, pois o PIB per capita caiu quase 1%. O Brasil encolheu. Lula não perdeu a pose e tascou a culpa na tal da herança maldita.
Em 2004, o comportamento stop and go da economia brasileira estava no go. Crescemos 4,94%. Seria, sem dúvida, um excelente desempenho se não fosse apenas um suspiro. A turma petista ficou alvoroçada, e Lula anunciou que o país havia entrado num novo ciclo de desenvolvimento sustentável.
O presidente, apesar de não ter mudado em nada o modelo econômico que travou o crescimento brasileiro a partir de 1999, dizia que em 2005 o país cresceria pelo menos 5%. Desafiou, em discurso proferido em fevereiro do ano passado, “todas as teorias” que sugeriam desempenho mais modesto. Depois da herança maldita e do suspiro, a teoria venceu. A expansão foi de só 2,3%. Se for levado em conta o crescimento da população, crescemos 0,8%.
Os petistas não podem dizer que não sabiam que a política econômica levaria a um desempenho econômico pífio. No programa de governo, escrito na campanha, o partido e o candidato Lula afirmavam: “Nesse contexto, a estabilidade de preços – única prioridade do atual modelo econômico – foi alcançada com o sacrifício de outros objetivos relevantes, como o crescimento econômico”. Muito boa a análise. Continua atualíssima.
Enfim, chegamos à entrevista de quinta-feira na revista britânica. Depois da herança, do suspiro e da teoria, Lula quer nos convencer de que a média de crescimento de 2,6% dos três últimos anos é o caminho do desenvolvimento. Que não temos pressa. Eu tenho.