Vai-se o homem. Muitas vezes fica a fama
Aí o rei mandou um súdito à casa do Bocage para desmoralizá-lo...Nos meus tempos de moleque quase todas as piadas eram creditadas na conta de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Nas piadas ele era sempre o algoz, nunca a vítima. Isso devido aos seus inúmeros sonetos satíricos.
Ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX, foi-se sedimentando um anedotário que tinha o escritor como principal interveniente. Por outro lado, as transgressões aos valores instituídos também eram de imediato identificadas com o nome de Bocage. Deste modo, foi-se tecendo uma lenda que continua ainda a ser alimentada.
Depois que sublimei as histórias de Pedro Malasartes, de Pedrinho do Sítio do Picapau Amarelo, do Jéca Tatu e outros que tais, começando a ler de verdade, aí conheci o Bocage.
Saiba morrer o que viver não soube
Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube
no abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube
ganhe um momento o que perderam anos
saiba morrer o que viver não soube.
Já Bocage não sou!
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio de razão seguisse pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria.
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei - ... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
1 Comments:
quero falar com o minas..........ja acabou o vinho e o peixe
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