terça-feira, fevereiro 07, 2006

A política do acerto

Abram os olhos, brasileiros. Os partidos de acerto já estão chegando!

Era uma vez um partido chamado PTB comandado por Getúlio Vargas. Até não tinha muita expressão eleitoral. Mas depois da morte de Getúlio chegou quase a ser o primeiro partido percentualmente.
O vice-presidente Café Filho sofreu um ataque cardíaco e foi substituído por Carlos Luz, aliado dos chamados golpistas. Nesse momento de incerteza e risco ocorreu o chamado golpe preventivo do general Lott, em novembro de 1955, que garantiu a posse de Juscelino, em janeiro de 1956. Naqueles tempos o vice também era votado. João Goulart obteve mais votos que Juscelino.
Como se deu a sucessão de Juscelino? Um dos nomes que participou da disputa foi o general Lott, figura respeitada nos meios militares, embora fosse fraco como candidato, mesmo com o apoio da aliança PSD-PTB. Seu adversário era Jânio Quadros, uma figura atípica na vida política brasileira; foi apoiado pela UDN, que viu nessa figura contraditória uma última oportunidade de chegar ao poder pelas vias democráticas. Lembremos que a UDN fora derrotada duas vezes com a candidatura de Eduardo Gomes, depois mais uma com Juarez Távora. Apesar do populismo janista, que não se enquadrava no modelo sisudo da UDN, o partido acabou sendo o escolhido. João Goulart também se candidatou como vice e mais uma vez foi eleito.

E o PTB continuou a crescer. Foi o momento áureo do PTB. E era exatamente o crescimento do partido que preocupava cada vez mais os grandes grupos externos, interessados em manter o Brasil jungido a um sistema econômico internacional injusto, inaceitável. Por outro lado, internamente, as elites mais conservadoras também se assustavam com o crescimento do trabalhismo. Isso foi criando uma situação de grandes pressões. Voltou-se a acusar o Jango de ligação com os comunistas; preparou-se a velha estratégia surrada de dizer que o Brasil estava ameaçado de um golpe comunista.
Jango, nesse momento, era indiscutivelmente, a grande liderança do partido, a ponto de a Confederação das Indústrias de São Paulo ter convidado Luís Carlos Prestes para um debate. E o Luís Carlos Prestes foi. Nesse debate, perguntaram a ele: "Se o presidente João Goulart
convidasse o seu partido para participar do governo, o seu partido participaria?" E ele disse: "Não, não participaria, nós já estamos participando." Era exatamente isso que os reacionários de São Paulo e do país queriam para provar que Jango estava envolvido em uma conspiração comunista, dentro daquela tese da república sindicalista que foi desenvolvida.

Isso ocorre no momento em que Jango é vice ou já no momento posterior, em que Jango é presidente? É evidente que é no momento em que Jango é presidente, já posteriormente. Mas é um encaminhamento de questão. Por que se evita a posse de Jango? Por que se cria um problema? Porque Jango foi à China? Mas esse regime não estabeleceu relações com a China? Fica ilógico. Entretanto, na ocasião, o argumento de que ele estava ligado aos comunistas chineses foi um grande argumento. Quer dizer, foi-se criando realmente um clima nacional no sentido de desgastar tremendamente o Jango, que era uma peça ainda móvel do partido, uma peça fundamental do partido. Procurava-se desgastar o Jango para atingir o partido. E foi realmente o que aconteceu.

Com os governos militares acabaram-se os partidos. Foi criada a ARENA, partido da situação, e o MDB da oposição, de fachada, apenas para um simulacro de democracia. Até que essa situação se completou e vieram os antigos partidos novamente.

Preocupado com a construção de um grande partido popular sob a liderança, pouco confiável, de Brizola, o governo militar manobra para entregar a sigla do PTB ao grupo de Ivete Vargas, que mantém uma batalha judicial pela posse da sigla. Ivete, sobrinha-neta de Getúlio, é amiga de confiança do General Golbery do Couto e Silva, hábil articulador do regime militar.
O objetivo da trama montada pelo astuto Golbery é imobilizar o projeto de um partido popular e socialista defendido por Brizola numa rede tecida em seu próprio partido. Porém a armadilha não surte o efeito esperado.
Brizola surpreendendo os seus inimigos (e também muitos amigos) rasga a sigla do PTB e parte para a convocação de um congresso com objetivo de formar um novo partido, surgindo como decisão adotar a denominação Partido Democrático Trabalhista (PDT), e aprofundar a sua proposta socialista.

O PTB é hoje um partido de acertos. Roberto Jefferson queria dissociá-lo da imagem de partido de aluguel ao denunciar o mensalão. Mas creio que não convenceu a ninguém. O noticiário desta semana já proclama o novo acerto do PTB com o governo de Lula. É muito triste!