A Fase Poética
No curso ginasial, com 14 ou 15 anos, eu já me destacava nas aulas de português. Certa vez o professor pediu uma redação com o título: uma notícia triste. Levei no dia seguinte. Êle não acreditou que eu tivesse sido o autor. Perguntou se eu tinha sido "ajudado" pelo papai ou pela mamãe. E leu meu trabalho para a turma. Eu lia muito Humberto de Campos e Eça de Queirós. Toda semana pegava um livro na biblioteca da escola. Porém gostava mais de José de Alencar. E acho que até copiava o estilo desse escritor. Quando o professor lia meu trabalho na classe eu achava que êle estava lendo José de Alencar. Até que um dia o professor me perguntou se gostava de poesia. Falei que não, que era uma coisa muito melosa.
- Mas de um soneto de Machado de Assis, de um Antero de Quental, você gosta?!
Falei que sim para encerrar o assunto.
Na Escola de Aeronáutica continuei lendo. Após as aulas ia para a biblioteca. Mas aí já era Aldous Huxley, Graham Greene, Erich Fromm, muito Machado de Assis e Tomás Antonio Gonzaga. Gustave Le Bon ("A Psicologia das Multidões"), Jean Paul Sartre ("A Idade da Razão") e Marcel Proust ("À la Recherche du Temps Perdu").
Sempre achei difícil escrever. A ficção é um dom, depende do talento e não da transpiração, do esfôrço. Preferi um caminho que julguei mais fácil: a poesia. E cometi alguns sonetos. Aqui estão dois deles.
Primeiro
Será que eu hoje ao menos pensei nela,
Mesmo de um modo vago e momentâneo,
Ou, simplesmente, suprimi do crânio
Tão meiga imagem de mulher tão bela?
Será que eu hoje já nesse descuido
Me abandonei qual leve pluma ao vento?
Talvez, porque meu débil pensamento
Parece imerso num estranho fluido...
Porém é cedo. Nem ainda o sol
Deixou seus raios darem luz ao dia,
Ainda o mundo dorme e todavia
Creio ter visto há tempos o arrebol.
Pois pensar nela traz-me tal engano
Que um só momento mais parece um ano.
Segundo
Nem pude ao menos dedicar-lhe um verso.
Por que motivo? Nada se condena!
Mas é que ao ver meu estro tão disperso,
De que maneira correria a pena?
As impressões se deixam no papel
Como se deixa vir o riso aos lábios,
Mas se a tristeza cobre o próprio céu
Não riem nem os parvos nem os sábios.
Assim estando pobre o pensamento,
Vazias as palavras, longe a graça,
Pensei: melhor deixar ir-se o momento,
Talvez um outro bem mais fértil nasça.
Minh'alma então liberta de motivos,
Dar-lhe-á os versos mil que traz cativos.
- Mas de um soneto de Machado de Assis, de um Antero de Quental, você gosta?!
Falei que sim para encerrar o assunto.
Na Escola de Aeronáutica continuei lendo. Após as aulas ia para a biblioteca. Mas aí já era Aldous Huxley, Graham Greene, Erich Fromm, muito Machado de Assis e Tomás Antonio Gonzaga. Gustave Le Bon ("A Psicologia das Multidões"), Jean Paul Sartre ("A Idade da Razão") e Marcel Proust ("À la Recherche du Temps Perdu").
Sempre achei difícil escrever. A ficção é um dom, depende do talento e não da transpiração, do esfôrço. Preferi um caminho que julguei mais fácil: a poesia. E cometi alguns sonetos. Aqui estão dois deles.
Primeiro
Será que eu hoje ao menos pensei nela,
Mesmo de um modo vago e momentâneo,
Ou, simplesmente, suprimi do crânio
Tão meiga imagem de mulher tão bela?
Será que eu hoje já nesse descuido
Me abandonei qual leve pluma ao vento?
Talvez, porque meu débil pensamento
Parece imerso num estranho fluido...
Porém é cedo. Nem ainda o sol
Deixou seus raios darem luz ao dia,
Ainda o mundo dorme e todavia
Creio ter visto há tempos o arrebol.
Pois pensar nela traz-me tal engano
Que um só momento mais parece um ano.
Segundo
Nem pude ao menos dedicar-lhe um verso.
Por que motivo? Nada se condena!
Mas é que ao ver meu estro tão disperso,
De que maneira correria a pena?
As impressões se deixam no papel
Como se deixa vir o riso aos lábios,
Mas se a tristeza cobre o próprio céu
Não riem nem os parvos nem os sábios.
Assim estando pobre o pensamento,
Vazias as palavras, longe a graça,
Pensei: melhor deixar ir-se o momento,
Talvez um outro bem mais fértil nasça.
Minh'alma então liberta de motivos,
Dar-lhe-á os versos mil que traz cativos.
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